domingo, 6 de julho de 2014

Cântico Negro

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Régio

Um comentário:

  1. No recanto da Penúria.

    No recanto da penúria na falta extrema e a escassez.
    Vem atona as, mas belas e profundas riquezas do valor do sentimento.
    Faz com as muitas pobrezas transformar em ricas promessas .
    Que o coração sente e o corpo padece quando não entende.
    Mas levado a sério indica sorte quando o sol esquente na manhã do dia.
    Do belo convívio do chama que vou do aperto da mão, pisando no chão.
    Dobrando os joelhos em forma de adoração em busca de uma solução.
    Há. que passado triste, que faz um solitário chorando com a carta na mão.
    Escrita com lágrimas de alguém que não aguentou e desabafou.
    Eu não piso mas aqui só me resta os trapos e tudo se acabou.
    Mas fica as lágrimas que são poucas e vai e em breve, o melhor já secou.
    No recanto da penúria na falta extrema e a escassez..
    Eu resisti e se você perseverar um dia tudo isso vai mudar.

    Elpidio Rocha . ( Autor ).
    (91) 82568431 esta já estar patenteada com o nome do Autor , que é Elpidio Rocha.

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