quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Danieli



 (Filme Un Chien Andalou - Salvador Dalí  e Luis Buñuel)


Eles


Primeiro eles cegam os seus olhos, para que você não veja. Porque não há nada errado à sua volta, é evidente que você anda enxergando demais. Eles fazem de madrugada, em silêncio, e quando você acorda o céu, o sol, a face amada, tudo some, sumiu, como o nada, como o absoluto silêncio dos olhos. Se isso não for capaz de silenciar a sua voz, eles cortam a sua língua - e dessa vez não vêm em silêncio, na madrugada às escuras, vêm na própria luz do dia que você não vê e deixam claro, muito claro, o que vão fazer; te anestesiarão e o colocarão numa cadeira, e cortarão a sua língua, rápido, sem dor, sem sangue, sem desespero, sem amor, limpo como deve ser. E se o silêncio não for suficiente e você escrever - você sempre pode escrever, você conserva a caneta entre os dedos e escreve, porque não seria capaz de desaprender, e o que sai pode ser uma garatuja mas com esforço alguém lê, e eles lêem - se você escrever, eles virão novamente. E dessa vez vêm sem pena, sem piedade, virão com estrondo, sem limpeza, com sangue e pavor, e cortarão seus dedos, cada um deles, todos eles, deixando apenas as palmas, as nuas e desfolhadas palmas das suas mãos. E todo o meio que você encontrar para dizer, da maneira como for, eles vão calar, calar e torná-lo um nada, um cotoco de gente sem sensos, sem existência legal, aprisionado em seu pensamento que grita, que berra e não cala.



Danieli Moreira

(descaradamente copiado do blog: http://violetainexistente.blogspot.com/ )

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Chico


O que será (A flor da pele)
O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz implorar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita
O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite
O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os tremores me vêm agitar
E todos os suores me vêm encharcar
E todos os meus nervos estão a rogar
E todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz suplicar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo.
Chico Buarque

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Os Três Mal-Amados




Joaquim:

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés.  Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.



João Cabral de Melo Neto


Obras Completas",Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.João Cabral de Melo Neto - 





sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Borges


Gabriel Caprav


As coisas

A bengala, as moedas, o chaveiro,
a dócil fechadura, as tardias
notas que não lerão os poucos dias
...
que me restam, os naipes e o tabuleiro.
Um livro e em suas páginas a seca
violeta, monumento de uma tarde
sem dúvida inesquecível e já esquecida,
o rubro espelho ocidental em que arde
uma ilusória aurora. Quantas coisas,
limas, umbrais, atlas, taças, cravos,
nos servem como tácitos escravos,
cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além de nosso esquecimento;
nunca saberão que nos fomos num momento.


Jorge Luis Borges

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Gil

Salvador Dali


Metáfora

Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: "Lata"
Pode estar querendo dizer o incontível


Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: "Meta"
Pode estar querendo dizer o inatingível


Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudonada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível


Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora.



Gilberto Gil. 1982


segunda-feira, 27 de junho de 2011

Manoel de Barros



Desnudo con Alcatraces 
Diego Rivera - 1944



Não é por me gavar
mas eu não tenho esplendor
Sou referente pra ferrugem
mais do que referente pra fulgor.

Trabalho arduamente pra fazer o que é desnecessário.
O que presta não tem confirmação,
o que não presta, tem.
Não serei mais um pobre diabo que sofre de nobrezas.
Só as coisas rasteiras me celestam.
Eu tenho cacoete pra vadio.
As violetas me imensam.


Manoel de Barros

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Neruda



Saudade

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.


Pablo Neruda

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Clarice

O primeiro beijo.

Os Amantes - 1928  (Rene Magritte) 

Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.
- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples:
- Sim, já beijei antes uma mulher.
- Quem era ela? perguntou com dor.
Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.
O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir – era tão bom. A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.
E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! como deixava a garganta seca.
E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca ardente engolia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.
A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava.
E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, enquanto sua sede era de anos.
Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos, espreitando, farejando.
O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre arbustos estava… o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada. O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a chegar ao chafariz de pedra, antes de todos.
De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos.
Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.
E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.
Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o líquido vivificador, o líquido germinador da vida… Olhou a estátua nua.
Ele a havia beijado.
Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe o corpo todo estourando pelo rosto em brasa viva. Deu um passo para trás ou para frente, nem sabia mais o que fazia. Perturbado, atónito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido.
Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil.
Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele…
Ele se tornara homem.


Clarice Lispector, in: Felicidade Clandestina

domingo, 29 de maio de 2011

Manoel de Barros




A poesia está guardada nas palavras — é tudo que
eu sei.
Meu fado é de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as
insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.


Manoel de Barros

sábado, 14 de maio de 2011

Drummond


Lasar Segall


Tarde de Maio

Como esses primitivos que carregam por toda parte o
maxilar inferior de seus mortos,
assim te levo comigo, tarde de maio,
quando, ao rubor dos incêndios que consumiam a terra,
outra chama, não perceptível, tão mais devastadora,
surdamente lavrava sob meus traços cômicos,
e uma a uma, disjecta membra, deixava ainda palpitantes
e condenadas, no solo ardente, porções de minh’alma
nunca antes nem nunca mais aferidas em sua nobreza
sem fruto.

Mas os primitivos imploram à relíquia saúde e chuva,
colheita, fim do inimigo, não sei que portentos.
Eu nada te peço a ti, tarde de maio,
senão que continues, no tempo e fora dele, irreversível,
sinal de derrota que se vai consumindo a ponto de
converter-se em sinal de beleza no rosto de alguém
que, precisamente, volve o rosto e passa...
Outono é a estação em que ocorrem tais crises,
e em maio, tantas vezes, morremos.
Para renascer, eu sei, numa fictícia primavera,
já então espectrais sob o aveludado da casca,
trazendo na sombra a aderência das resinas fúnebres
com que nos ungiram, e nas vestes a poeira do carro
fúnebre, tarde de maio, em que desaparecemos,
sem que ninguém, o amor inclusive, pusesse reparo.
E os que o vissem não saberiam dizer: se era um préstito
lutuoso, arrastado, poeirento, ou um desfile carnavalesco.
Nem houve testemunha.

Nunca há testemunhas. Há desatentos. Curiosos, muitos.
Quem reconhece o drama, quando se precipita, sem máscara?
Se morro de amor, todos o ignoram
e negam. O próprio amor se desconhece e maltrata.
O próprio amor se esconde, ao jeito dos bichos caçados;
não está certo de ser amor, há tanto lavou a memória
das impurezas de barro e folha em que repousava. E resta,
perdida no ar, por que melhor se conserve,
uma particular tristeza, a imprimir seu selo nas nuvens.


Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 10 de maio de 2011

Pessoa


Túlio Tavares



ANÁLISE
 
 
 
        Tão abstrata é a idéia do teu ser 
        Que me vem de te olhar, que, ao entreter 
        Os meus olhos nos teus, perco-os de vista, 
        E nada fica em meu olhar, e dista 
        Teu corpo do meu ver tão longemente, 
        E a idéia do teu ser fica tão rente 
        Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me 
        Sabendo que tu és, que, só por ter-me 
        Consciente de ti, nem a mim sinto. 
        E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto 
        A ilusão da sensação, e sonho, 
        Não te vendo, nem vendo, nem sabendo 
        Que te vejo, ou sequer que sou, risonho 
        Do interior crepúsculo tristonho 
        Em que sinto que sonho o que me sinto sendo. 




Fernando Pessoa
(Cancioneiro

quinta-feira, 31 de março de 2011

Leminski

Por um lindésimo de segundo


tudo em mim
anda a mil
tudo assim
tudo por um fio
tudo feito
tudo estivesse no cio
tudo pisando macio
tudo psiu

tudo em minha volta
anda às tontas
como se as coisas
fossem todas
afinal de contas 

 

Paulo Leminski


http://www.fotolog.com.br/orlandopedroso/22577095

quarta-feira, 16 de março de 2011

J. Constantino

para Carlos Alberto Bressanin

A cidade e os muros

.
Dentro da cidade
há de se aprender a viver
sobrevivendo.
.
Sobreviver é tarefa imediata
(mesmo que insuficiente)
para quem almeja moldar
o mundo
em nova forma.
.
Para quem deseja demolir
os muros
que sufocam os olhos
e aprisionam o horizonte.
.
.
.

As grades

.
I
É imperativo preencher
os vãos das grades
com liberdade.
.
II
Até que a liberdade
ocupe os espaços
que as grades invadiram.


Jonathan Constantino




 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Pena Filho

"Azul" Mira Schendel


Soneto do desmantelo azul

Então, pintei de azul os meus sapatos
...por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori, as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.

Carlos Pena Filho

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Marcos de Sá

Egon Schiele



Profana Dança

Jogar amor, as regras desconheço
Atuo sempre desorientado
Se tento é sempre intento fracassado
Desgarro, agarro, amarro e então pereço

Profano, danço até que hesito exausto
Espelho expresso rápido indeciso
Duvido olhar calado peito inciso
Afago, ofego e me redimo infausto

Em minha pele cada poro sua
Mentira que transpira, inspira e clama
Derrama sobre sua pele nua

A mesma farsa em dois subtraída
Sentida só depois que a fria chama
Apaga e chama à vida desmentida


Marcos de Sá


Blog do Poeta: http://markitoland.blogspot.com/                                                              

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Drummond

Para começar bem o ano...


Ausência


Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.



Carlos Drummond de Andrade

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