quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Maiakóvski

BLUSA FÁTUA

Costurarei calças pretas
com o veludo da minha garganta
e uma blusa amarela com três metros de poente.
pela Niévski do mundo, como criança grande,
andarei, donjuan, com ar de dândi.
Que a terra gema em sua mole indolência:
"Não viole o verde de as minhas primaveras!
"Mostrando os dentes, rirei ao sol com insolência:
"No asfalto liso hei de rolar as rimas veras!"
Não sei se é porque o céu é azul celeste
e a terra, amante, me estende as mãos ardentes
que eu faço versos alegres como marionetes
e afiados e precisos como palitar dentes!
Fêmeas, gamadas em minha carne,
e esta garota que me olha com amor de gêmea,
cubram-me de sorrisos, que eu, poeta,
com flores os bordarei na blusa cor de gema!


Vladimir Maiakovski



(tradução: Augusto de Campos)

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Korytowski

Poema nº9 de "Twelve Songs”, W. H. Auden
Relógios, parar! Telefone, desligar!
Um osso suculento pro cão não ladrar.
Pianos, silêncio! Com dobres de finados
Tragam o caixão, venham os enlutados.
Aviões circulem chorosos pelo céu
Escrevendo uma mensagem: ele morreu.
Os pombos da rua laços de crepe ostentarão
Os guardas de trânsito, luvas pretas de algodão.
Ele era meu sul, norte, oriente, ocidente
Domingo de lazer, meus dias de batente
Meio-dia, meia-noite, papo, canção
Pensei que o amor fosse eterno: triste ilusão!
Sejam expulsos os astros, já não fazem sentido,
A lua empacotada, o sol destruído!
Os oceanos, secados, a mata, ceifada,
Já que tudo isso não serve mais para nada!

Ivo Korytowski

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Vinicius

Soneto do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre e diversa realidade.

Amo-te enfim, de um calmo amor presente
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplismente
De um amor sem mistério e sem virtude
E com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo derrepente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Vinicius de Moraes

domingo, 4 de outubro de 2009

Florbela Espanca


Poetas

Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.

Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!

Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas

E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!

Florbella Espanca

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