sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Borges


Gabriel Caprav


As coisas

A bengala, as moedas, o chaveiro,
a dócil fechadura, as tardias
notas que não lerão os poucos dias
...
que me restam, os naipes e o tabuleiro.
Um livro e em suas páginas a seca
violeta, monumento de uma tarde
sem dúvida inesquecível e já esquecida,
o rubro espelho ocidental em que arde
uma ilusória aurora. Quantas coisas,
limas, umbrais, atlas, taças, cravos,
nos servem como tácitos escravos,
cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além de nosso esquecimento;
nunca saberão que nos fomos num momento.


Jorge Luis Borges

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