terça-feira, 4 de maio de 2010

Gullar



Traduzir-se


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:                      
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.


Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?



Ferreira Gullar

De Na Vertigem do Dia.

3 comentários:

  1. Esse poema é lindooo! Um dos que mais gosto!

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  2. Conheci Gullar numa festa, meu pai era jornalista do Jornal dos Sports do Rio e tinha publicado um livro. Ele mostrou-se muito íntegro e respeitador. Adoro poesias de Gullar. Adoro suas facetas.
    Um abraço
    João Mario

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  3. Tatiane, será uma honra ver um poema meu no teu espaço. Pode postar.

    Um abraço

    João Mario

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